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OS JOGOS NO ENSINO DA MATEMÁTICA

Wilton dos Santos – Matemática, UFCG

Wiltonsantos130@gmail.com

Programa de Educação Tutorial (PET) – Matemática e Estatística

O ensino da Matemática ainda é visto por muitos como um problema. Buscando soluções para esse problema, visamos desenvolver e aplicar metodologias que facilitem o processo de ensino aprendizagem da disciplina. Um tópico bastante popular e aceito por muitos como uma boa saída para isso, é a utilização dos jogos nas aulas de Matemática.

Sabemos que no Brasil, o principal documento que rege a educação é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), nela conseguimos encontrar tópicos que citam os jogos, como na seguinte habilidade

(EF01MA04) Contar a quantidade de objetos de coleções até 100 unidades e apresentar o resultado por registros verbais e simbólicos, em situações de seu interesse, como jogos, brincadeiras, materiais da sala de aula, entre outros (BRASIL, 2018, p.279)

E também nos itinerários formativos

II – matemática e suas tecnologias: aprofundamento de conhecimentos estruturantes para aplicação de diferentes conceitos matemáticos em contextos sociais e de trabalho, estruturando arranjos curriculares que permitam estudos em resolução de problemas e análises complexas, funcionais e não-lineares, análise de dados estatísticos e probabilidade, geometria e topologia, robótica, automação, inteligência artificial, programação, jogos digitais, sistemas dinâmicos, dentre outros, considerando o contexto local e as possibilidades de oferta pelos sistemas de ensino. (BRASIL, 2018, p. 477).

Segundo Lima 2019.

Desse modo, a cultura do Jogo, enquanto construção social, precisa ser vivenciada em um determinado tempo e espaço, levando em consideração sua importância no desenvolvimento do indivíduo durante a infância e a adolescência, ancorado por documentos de caráter educacional como a BNCC, na qual determina, norteia e orienta as práticas pedagógicas da Educação Básica. (LIMA, 2019, p. 73).

Além da BNCC podemos encontrar tópicos sobre os jogos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), neles encontramos o seguinte

  • O aluno tem que ter a oportunidade de construir modelos explicativos, linhas de argumentação e instrumentos de verificação de contradições; criando situações em que o aluno é instigado ou desafiado a participar e questionar; valorizando as atividades coletivas que propiciem a discussão e a elaboração conjunta de ideias e de práticas; desenvolvendo atividades lúdicas;
  • A aula expositiva é só um dos muitos meios e deve ser o momento do diálogo, do exercício da criatividade e do trabalho coletivo de elaboração do conhecimento. Através dessa técnica podemos, por exemplo, fornecer informações preparatórias para um debate, jogo ou outra.

Com isso podemos observar que os jogos possuem uma grande importância no ensino da matemática, pois eles são uma forma lúdica e divertida de aprender. Os jogos ajudam os alunos a desenvolverem habilidades importantes, como a resolução de problemas, a criatividade, a capacidade de raciocínio lógico e a tomada de decisões. Além disso, os jogos podem ser usados para tornar a aprendizagem da matemática mais prática, ajudando os alunos a entender melhor os conceitos matemáticos e a aplicá-los em situações da vida real. Os jogos também podem ajudar a tornar o processo de aprendizagem mais motivador e engajador, o que pode levar a um maior interesse e sucesso na matemática. E segundo Melo (2022) o uso de jogos desperta o interesse do aluno, deixando o ensino mais significativo o tornando um ser mais ativo, ao contrário do ensino tradicional em que o estudante apenas ouve o que o professor fala.

A proposta da utilização dos jogos é muita válida, porém cuidados devem ser tomados, e isso tem que ser visto como uma parte da disciplina e também tem que existir uma preparação como qualquer aula, buscando sempre transmitir o jogo da melhor maneira para os estudantes extraindo sempre o máximo da Matemática do jogo. Outro ponto é sempre ter regras para que o jogo saia de maneira correta e os alunos tenham que ver esses momentos como parte da Disciplina e não achem que aquilo não passe apenas de um momento de distração.

Em (5), Smole faz um estudo completo sobre essa metodologia, e também lista alguns pontos importantes para que o jogo saia como o esperado, que são:

  • o jogo deve ser para dois ou mais jogadores, sendo, portanto, uma atividade que os alunos realizam juntos;
  • o jogo deverá ter um objetivo a ser alcançado pelos jogadores, ou seja, ao final, haverá um vencedor;
  • o jogo deverá permitir que os alunos assumam papéis interdependentes, opostos e cooperativos, isto é, os jogadores devem perceber a importância de cada um na realização dos objetivos do jogo, na execução das jogadas, e observar que um jogo não se realiza a menos que cada jogador concorde com as regras estabelecidas e coopere seguindo-as e aceitando suas consequências;
  • o jogo precisa ter regras preestabelecidas que não podem ser modificadas no decorrer de uma jogada, isto é, cada jogador deve perceber que as regras são um contrato aceito pelo grupo e que sua violação representa uma falta; havendo o desejo de fazer alterações, isso deve ser discutido com todo o grupo e, no caso de concordância geral, podem ser impostas ao jogo daí por diante;
  • no jogo, deve haver a possibilidade de usar estratégias, estabelecer planos, executar jogadas e avaliar a eficácia desses elementos nos resultados obtidos, isto é, o jogo não deve ser mecânico e sem significado para os jogadores
Figura 1: Livro Mathema

Existe muitas opções de jogos, cabe ao professor analisar e selecionar as opções que irão melhor trabalhar o conteúdo que está sendo dado no momento. A seguir alguns tipos de jogos e o que cada um desses jogos trabalham:

  • Jogos de tabuleiro: jogos como xadrez, damas envolvem cálculos e estratégias matemáticas. Eles podem ser usados para ensinar conceitos como coordenação espacial, estratégias de movimento e, ainda, a compreender como funciona o sistema de numeração  Jogos de Cartas: jogos como, pôquer envolve habilidades matemáticas, como probabilidade e estatística. Além disso, eles podem ser usados para ensinar conceitos de contagem, sequência de números, e operações matemáticas.
  • Jogos online: há muitos jogos educativos online que ajudam a ensinar matemática de uma forma divertida e interativa. Esses jogos geralmente envolvem cálculo, lógica e resolução de problemas em um ambiente virtual.
  • Jogos de quebra-cabeça: estes jogos podem ser usados para ensinar conceitos de geometria, percepção espacial e resolução de problemas. Eles também podem ser ótimas ferramentas para ajudar a desenvolver habilidades de pensamento crítico e criatividade.

A escolha do tipo e também do próprio jogo tem que ser algo pensado, assim como diz em (5).

Um jogo pode ser escolhido porque permitirá que seus alunos comecem a pensar sobre um novo assunto, ou para que eles tenham um tempo maior para desenvolver a compreensão sobre um conceito, para que eles desenvolvam estratégias de resolução de problemas ou para que conquistem determinadas habilidades que naquele momento você vê como importantes para o processo de ensino e aprendizagem

Existe uma infinidade de jogos, a seguir será listado alguns que podem ser bem utilizados nas aulas de matemática, todos os jogos citados aqui foram tirados do livro descrito anteriormente.

1) Batalha naval: esse jogo é bem conhecido e também é uma ótima forma de abordar o tema de plano cartesiano

Figura 2: Tabuleiro da batalha naval

Nesse jogo distribui os navios pelo tabuleiro e deixa-os camuflados e cada jogador escolhe uma letra e um número, daí verifica a correspondência no tabuleiro e revela o quadradinho, em caso de ter algum navio, o jogador continua jogando, em caso de não ter nada, perde a vez. Pode-se enxergar esse tabuleiro como sendo o plano cartesiano, onde as letras serão o eixo 𝑥 e os números o eixo 𝑦, dessa maneira a ideia de representação de pontos no plano cartesiano será dada de uma forma que ficara de fácil entendimento para os alunos.

2) Dominó: esse jogo possui diversas variações podendo utilizar em diversos conteúdos, porém a ideia principal é a mais usual, que é juntar as peças correspondentes. Algumas dessas variações são, o dominó dos racionais, dominó com figuras correspondentes

O dominó é um jogo bastante conhecido por todos, por isso a sua aplicação se torna fácil pois não existirá muitas dificuldades nas regras do jogo. No dominó da figura 3 basta o jogador unir as peças semelhantes, por exemplo a peça que tem a expressão $\frac{1}{2}$ é equivalente a peça que tem o valor 50%. Esse jogo é muito bom para mostrar a ideia de representações de números, mostra-se que para cada número existe inúmeras maneiras de representa-lo, e ao mesmo tempo trabalha a agilidade dos alunos para cálculo mental e a capacidade de desenvolver o raciocínio para criar estratégias. Porem esse jogo pode ser muito forçado também, criando situações que não serão tão proveitosas, como colocando expressões mais complexas e que deixarão o jogo mais lento e com mais chances de se cometer erros.

3) Termômetro: A ideia de temperatura é uma das mais usuais e utilizadas pelos professores quando se inicia o estudo dos números inteiros pois é interessante mostrar um exemplo de onde usamos os números negativos. Como o próprio nome do jogo já diz o jogo é em formato de termômetro

Figura 3: Tabuleiro para o jogo do termômetro
Fonte: Livro Mathema

O jogo é simples, cada jogador inicia no 0, daí em cada rodada vai sorteando um carta e o resultado da carta será o quanto ele vai andar nesse tabuleiro, terão valores positivos e negativos, onde os positivos andam para frente e os negativos para trás, se o jogador chegar no −20 o jogador é congelado e é eliminado, e vence quem chegar no 20. Esse jogo é bem interessante para trabalhar a questão da soma de números inteiros, mostrando por exemplo o motivo que a quando temos a soma de dois números negativos somamos e repetimos o sinal (por exemplo ,−2 − 2 = −4). As cartas a serem sorteadas pode ficar a critério de quem está organizando o jogo, segue uma ideia de como pode ser feito.

Figura 4: Cartas para jogo do Termômetro
Fonte: Livro Mathema

Esses foram alguns exemplos de jogos, dentre esses é possível criar variações e realizar outras dinâmicas.

Como dito antes, alguns cuidados devem ser tomados na hora de usar os jogos em sala de aula. Alguns jogos podem confundir mais do que ajudar, a seguir trago o exemplo de um jogo que na minha concepção é confuso e pode atrapalhar. O nome do jogo é estrela, O jogo tem como intuito fazer com que os alunos compreendam os efeitos das operações básicas com os números decimais, e para isso os alunos devem realizar cálculos e seguir caminhos formando assim uma estrela, vence quem chegar na outra extremidade da estrela que é o ponto de “chegada” como podemos ver na figura 7. O jogo segue as condições descritas em (5) para uma boa realização, porém alguns fatores acabam o tornando um jogo não tão interessante, um desses pontos é a questão visual, como podemos notar na figura 7, as informações acabam ficando cruzadas e de certo modo ficam confusas, e isso pode ser que dificulte a sua execução e não será tão proveitoso.

Figura 5: Jogo da Estrela
Fonte: Livro Mathema

Os jogos surgem como uma ótima alternativa para a melhora do ensino da matemática, porem ainda é usado em pouca escala e em um estudo acerca do tema Lima (2019, p. 1) a utilização dos jogos está ausente na Matemática e nas Ciências, muitas vezes por falta de tempo e falta de preparo, é importante que os professores estejam sempre dispostos a aprender e mudar quando necessário. E percebemos que se preparado da maneira correta, com os devidos cuidados sempre utilizando jogos que se encaixem no conteúdo, esse é uma metodologia que só tem a agregar positivamente no ensino e aprendizagem da matemática.

REFERÊNCIAS:

(1) BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2000. BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais.

(2) BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018

(3) MELO, Claube Camile; RIBAS, João Francisco. O sentido do jogo na educação infantil e no ensino fundamental: uma análise acerca da base nacional comum curricular. Revista Triângulo, Minas Gerais, v. 12, n. 2, 73-88, 2019.

(4) MELO, Claudiano Henrique da Cunha; LIMA, Claudiney Nunes de. A importância dos jogos no ensino da Matemática no Ensino Fundamental II. Revista de Educação Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n 39, 18 de outubro de 2022. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/22/23/aimportância-dos-jogos-no-ensino-da-matemática-no-ensino-fundamental-ii

(5) SMOLE, Kátia Cristina; DINIZ, Maria Ignez; MILANE, Estela. Caderno do Mathema: Jogos Matemáticos. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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